O trabalho invadiu seu tempo livre e você nem percebeu...
- Danielly Pinotti
- 7 de fev.
- 5 min de leitura
A tecnologia está totalmente integrada ao contexto do trabalho. O e-mail nunca para, o WhatsApp se tornou ferramenta de gestão, e o LinkedIn é um dos principais espaços para networking e posicionamento profissional. Mas até que ponto essa hiperconectividade impacta nossa saúde mental?
Por um lado, a tecnologia nos permite mais autonomia e alcance profissional, por outro, pode gerar ansiedade, sobrecarga e a sensação de que nunca estamos "desconectados" de verdade. O medo de perder espaço ou oportunidades faz com que os limites entre vida pessoal e profissional se tornem cada vez mais confusos. É uma linha tênua estar no final de semana curtindo a família e se esbarrar com uma mensagem fora de hora - e sentir a tal da culpa por não responder.
Hoje quero explorar como a tecnologia influencia nossa rotina profissional, quais os impactos do uso excessivo e, mais importante, como podemos encontrar um equilíbrio que permita mais saúde nos dias.
O impacto da tecnologia na saúde mental: o linkedIn e a pressão por posicionamento
Faz algum tempo que o LinkedIn deixou de ser apenas uma plataforma de currículos e se tornou um espaço onde profissionais precisam se posicionar para ganhar visibilidade. Hoje, para ser reconhecido no mercado, muitas vezes é necessário criar conteúdo, interagir e "mostrar" conhecimento de forma constante, e em forma de textos (não importa o quanto você seja ruim nisso - alou, IA).
O problema? Esse processo pode gerar desgastes dos mais diversos. Muitos de nós sentimos a necessidade de provar competência "a qualquer custo", transformando a produção de conteúdo em uma obrigação e consumindo um tempo significativo (que poderia ser investido em aprendizado prático ou até em descanso).
Além disso, uma tendência no mercado é a contratação de ghostwriters para criar posts e manter um posicionamento ativo na plataforma. Ou seja, nem sempre os conteúdos que vemos são escritos pelas próprias pessoas que os assinam. Veja, não estou condenando a profissão ou seu objetivo, mas trazendo a reflexão de isso só reforça ainda mais a pressão para estar sempre presente, mesmo quando a rotina profissional já é exaustiva.
Já vi até profissionais se reunindo, criando grupos para envio das publicações, para uma troca de curtidas, comentários e compartilhamento e dessa forma, a galera -tentar- não flopar. Até onde vamos em busca desse "reconhecimento"?
O nosso maior desafio é entender que, embora seja importante ter a presença no digital, aplicar o conhecimento no dia a dia ainda é o que realmente nos diferencia. Sinto que a necessidade de sermos vistos e o medo de ficarmos para trás não pode ser maior do que a necessidade de equilibrar tempo e energia.
WhatsApp: a ferramenta que nunca dorme (e atrapalha o sono de muitos)
O WhatsApp "revolucionou" (entre aspas) a comunicação no trabalho, e ao mesmo tempo criou um novo problema: a cultura da disponibilidade 24 horas. Mensagens fora do horário, grupos sem fim e a expectativa de resposta imediata fazem com que muitas pessoas não consigam se desconectar. Isso resultou em estafa mental e as pessoas não querem nem ao menos conversar com aqueles que amam.
O resultado? Até essa ferramenta "social" virou uma obrigação. Junto disso, aumento do estresse, dificuldades de concentração e a sensação de que nunca há uma pausa real. Tenta entrar no aplicativo e responder UMA mensagem. É possível que você esqueça o que foi fazer ao ser bombardeado por outras notificações. No fim, a tecnologia, que deveria facilitar a rotina, muitas vezes acaba sendo uma fonte de esgotamento mental.
Eu entendi (a duras penas - adoro essa expressão) que impor limites é essencial: defini horários para responder mensagens, evito responder fora do expediente (o máximo possível) e vivo verdadeiramente uma cultura de respeito ao tempo offline. Penso que essas são medidas fundamentais para manter uma relação entre vida e trabalh mais saudável. Ainda mais para quem trabalha no formato anywhere office. Desligar do trabalho quando se está sempre tão perto dele é um desafio.
A tal produtividade tóxica
A tecnologia otimiza certos processos (e o nosso acesso ao trabalho). Por isso, muitos profissionais adotaram a crença de que "trabalhar mais" é sinônimo de "produzir mais". Afinal, temos facilidade de acesso a e-mails, reuniões virtuais e plataformas de comunicação instantânea. Tudo isso com essa cultura tóxica de produtividade criou um ciclo de sobrecarga, no qual muitos profissionais sentem que precisam estar sempre disponíveis para não perder espaço.
Essa cultura da hiperprodutividade ignora um ponto crucial: produtividade não é apenas quantidade, mas qualidade. Trabalhar de forma ininterrupta, sem pausas, compromete a criatividade, a tomada de decisão e, no longo prazo, a própria performance.
Como estabelecer limites e proteger a saúde mental da cultura da hiperprodutividade?
Defina limites: Determine horários específicos para responder mensagens e interagir nas redes profissionais. Você não precisa estar disponível o tempo todo. Sempre deixo claro o que é inegociável. Se não fizermos isso por nós, quem fara? Por experiência própria, o modo "não perturbe" do celular é um grande aliado, além de silenciar notificações e grupos. Achei que isso me faria "perder" algo, mas passei a entrar na ferramenta em momentos oportunos e com menos frequência. Assim, consigo dar mais atenção e me sentir menos pressionada.
Gerencie o tempo de exposição digital: Redes sociais profissionais (e pessoais) são ferramentas, não obrigações. Encontre um ritmo que funcione para você sem comprometer sua saúde mental. Eu, por exemplo, estabeleci uma regra de não ter acesso a telas entre 20h e 07h. Redes sociais com tempo limitado, onde o app me avisa e fica desativado. No início, parecia que estava vivendo errado. Mas o tempo e a persistência permitiram que isso virasse um hábito. Isso me ajudou a reduzir estresse, otimizou meu sono e, no dia seguinte, minha produtividade melhorou muito.
Aplique estratégias de foco: Técnicas como deep work (já falei disso aqui) ajudam a minimizar distrações e evitar o uso excessivo de tecnologia durante o expediente. Procuro deixar o celular longe, e me protejo de mim mesma quando estou no meio de uma entrega. Não é para olhar o Instagram enquanto está no bloco de trabalho profundo. A gente pode levar segundos para perder o foco, mas para retomar, pode levar até meia hora.
Cultive momentos de desconexão: Estar offline também é produtivo, é que nos fizeram acreditar que não. Atividades como yoga, leitura ou até um tempo longe das telas podem melhorar seu bem-estar e sua clareza mental. Estar longe das telas é onde deveríamos estar mais tempo. Não o contrário. Perceba que quando saímos das telas, sentimos alívio, mas estamos sempre com a sensação "será que estou perdendo algo do outro lado?" - que lado, meu amigo? A vida está em movimento. Vai ter muito conteúdo por aí. Mas esteja certo de que nada importa mais do que onde e como você está vivendo agora.
Construa uma cultura de respeito ao tempo: Seja em empresas ou no trabalho autônomo, a gente precisa normalizar a ideia de pausas e limites. Só assim a gente vai construir uma cultura onde a produtividade seja sustentável de verdade.
Por fim, sou defensora da tecnologia (quando usada com parcimônia - amo esse termo, me julguem) e reconheço que nos trouxe inúmeras facilidades para o contexto de trabalho de muitos profissionais. Porém, seu uso descontrolado (porque a gente é meio sem noção mesmo), pode levar à exaustão e ao desequilíbrio entre vida pessoal e profissional. Encontrar maneiras de utilizar essas ferramentas sem deixar que elas dominem nossa rotina é um desafio, mas também uma necessidade.
Enfim, já falei que ser produtivo não significa estar disponível o tempo todo — significa saber usar o tempo da melhor forma possível.
Você já conseguiu impor limites ao uso da tecnologia no trabalho? O que funcionou (ou não) para você? Compartilha sua experiência comigo?
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