Afinal, qual a relação entre Saúde Mental e Trabalho?
- Danielly Pinotti
- 26 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
A mudança das exigências ao trabalhador acarretam em efeitos na saúde do indivíduo na contemporaneidade.
No trabalho contemporâneo, o profissional é requisitado pelas suas características intelectuais e seu modo de ser. Isso pode ter efeitos na maneira como nos desenvolvemos como sujeitos.
Intelecto e aspectos mentais
Por ser requisitado o tempo todo não só pelo trabalho físico, mas também pela mobilização pessoal (e mental) que isso envolve, acabamos trabalhando muito mais.
Não é incomum que a gente pense sobre o trabalho fora do próprio ambiente profissional, ou receba notificações de e-mail e grupos de whatsapp fora do horário para resolver certas questões. A sensação é de que estamos trabalhando a todo momento.
Perceba nas relações pessoais, onde para manter a empregabilidade, pensamos em como falar sobre nossa atuação. O movimento parece cobrar que "é preciso crescer", se desenvolver, ganhar mais, ser mais produtivo, mais envolvido. Em tese, é um ciclo sem fim.
Fragmentação do mercado
Para quem não tem acesso a "intelectualização", espera-se o contrário. São grupos diferentes, com acesso a informações e educação diferentes, preparados ao longo da vida para desempenhar papéis e funções diferentes. Neste grupo encaixa-se os trabalhadores menos estratégicos, mas veja: ainda fazem a roda girar. No entanto, não espera-se criação de vínculo, investimento em conhecimento ou crescimento. A ideia neste caso é oposta a essa, são colaboradores menos privilegiados e com trabalhos mais precários.
Os processos de desregulamentação das relações de trabalho acabam por incentivar esse "desvínculo", pois, em tese, a empresa atende a demanda do cliente sem criar relação contratual com o trabalhador. Ou seja, esses profissionais tem a sensação de autonomia mas não tem possibilidade de mudar condições de trabalho, sendo controlados e estando limitados a certos movimentos e barganhas.
É uma fragmentação que se torna cada vez mais intensa e que corrobora para a perda de referências e princípios. Isso tem relação com o mundo do trabalho, tendo efeito na saúde mental do trabalhador, como "Se não trabalho não ganho”, “Tenho que trabalhar muito para suprir”, ou “O que será de amanhã?".
Os trabalhos contemporâneos trazem sofrimentos e evidenciam novas crises. Evidenciam a sensação de competição entre trabalhadores de áreas afins, intensificação do trabalho, além da rotatividade.
Quais efeitos esse movimento produz?
É comum perceber a perda do sentido do trabalho. Aqui, parece que os profissionais deixam de perceber o usufruto do trabalho. Não percebem mais o valor (afetivo) justo por dedicar determinadas horas do seu dia.
Ou seja, cria-se um conflito entre o que você faz, o tempo que você faz e o sentido daquilo que você faz.
Além disso, há um aumento do sofrimento mental relacionado ao trabalho, resultado do esvaimento de energia e exaustão. O que não diminui questões físicas e osteomusculares, devido às tensões, má postura e falta de cuidado do corpo.
Apesar de não ser explicitado e ainda ser um tema desafiador quando falamos de políticas de saúde, é possível relacionar o aumento de doenças cardiovasculares tendo o estresse vinculado ao trabalho como uma de suas fontes.
Claro que não é apenas o mundo do trabalho que desempenha esse papel, existem outros determinantes que podem ter influência. No entanto, o trabalho é um elemento que faz parte de uma equação muito problemática a que estamos sujeitos.
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